quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Louvor aos Orixás - Yemanjá

YEMANJA
Yèyé omo ejá ("Mãe cujos filhos são peixes")
Orixá Yemanja se coaduna com as teorias científicas evolucionistas de que a vida surgiu no oceano, sendo esse seu campo de força. Ela tem  sob sua regência, dentro da ótica divina dos orixás, a maternidade, a criação e a geração. Assim como no macro toda a vida começou na água, na cosmologia divina também encontramos a mesma origem. A água em sua simbologia geralmente se refere as emoções, ao feminino e a processos inconscientes. Em suma, essa Yabá tráz todos esses aspectos em sua simbologia, pois representa a memória humana da origem da vida, trazida no inconsciente por cada ser, de que de alguma forma saimos do mar, do amor da mãe divina
Festa de Yemanja (2 de fevereiro) - No sincretismo com Nossa Senhora
dos Navegantes 

Dessa forma, Yemanjá atua diretamente em tudo aquilo que o ser humano, em sua condição de encarnado, tem como sua criação e geração. Ela é protetora dos lares e das famílias, das mães, mas não se limita nessa questão de maternidade literal, na qual dois seres humanos geram uma terceira vida. Ela atua na maternidade em sentido amplo, no amor incondicional à humanidade e por essa razão é comumente representada com os braços abertos, de forma a simbolizar sua receptividade irrestrita. É o orixá que não se limita a dar origem à toda forma de vida, mas que também acolheampara e protege a todos.
Ainda sobre a simbologia de seu campo de força, o oceano, temos que o mar é conhecido por Calunga Grande, ou seja, o grande cemitério. As calungas menores são os cemitérios humanos em terra. Sendo dessa forma, quem rege o trono oposto à Yemanja, sendo seu parceiro no polo negativo, é orixá Omulu, que em parceria divina paralisa e neutraliza os fatores que atentarem negativamente contra a vida ou usarem os poderes de criação e geração contra as leis divinas.  Esse fator é explicado em partes, por exemplo, pelo sal grosso na água marinha. O sal grosso, dentro da umbanda, é capaz de retirar e neutralizar todos os tipos de energia. Nesses termos, temos na movimentação ondina constante que o mar tem a força de puxar e devolver incessantemente, criar e neutralizar, dar o bem e sugar o mal, nos auxiliando nesse plano terrestre em nível energético, sendo capaz de gerar grande serenidade e equílibrio com sua irradiação.
Em alguns momentos, temos que a mãe divina é representada como Mamãe Sereia, criatura mítica que é metade mulher, metade peixe. O peixe, para o entendimento dentro dos orixás, é visto como representação de fecundidade, aquele que se movimenta com domínio pelas àguas, que simboliza fartura ebusca espiritual pela origem e destino da alma, natural de todo ser que inicia o processo da inconsciencia para a consciência. Representa também a Mãe Virgem, aquela que é a origem de todas as coisas, e que portanto gera em sí e para si mesma a vida.

Em resumo, a atuação de Yemanja simboliza a espiritualidade e sua busca em seu sentido mais maternal, o aspecto feminino do Deus criador, que gera a vida em sí mesma para que ela se desenvolva e para si mesmo retorne.  Por isso, ao se trabalhar na irradiação desse orixá, aspectos inconscientes de memória e emocionais, questões referentes à maternidade, busca espiritual, processos criativos e neutralização de  desequilibrios energéticos podem ser trazidos à baila.

***Texto Escrito por: Beatriz Mazzini

Ritual de Louvor aos Orixás - Iemanjá

A imagem pode conter: texto
RITUAL DE LOUVOR AOS ORIXÁS
IEMANJÁ
Sábado- 02 de Fevereiro- ás 19 horas
Vamos todos saudar uma das Deusas que mais fascina e encanta o povo brasileiro! A rainha do mar acolhe todos os seus filhos e traz conforto para aqueles que buscam a sua energia.

Odoyá, Mãe Iemanjá!

Mais Informações em:

Ritual dos Guardiões de Esquerda - Exu Marabô

RITUAL DOS GUARDIÕES DE ESQUERDA
Homenagem ao Exu Marabô

Sexta feira- 01 de Fevereiro- ás 21 horas

Ventou no canavial,
Um trovão lá do céu ecoou.
Salve Iansã, Xangô!
Salve a coroa de Exú Marabô!

VALOR
R$ 80,00 (visitantes)

Mais Informações:

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

ॐ Satsaṅgas à Śrī Lakṣmī e Śrī Gaṇeśa 


Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Mahālakṣmī Devī e Śrī Śrī Mahāgaṇapati!


Neste mês de Janeiro, nos Templos Polimatas celebramos o início de mais um ciclo junto aos pés de lótus de Śrī Mahālakṣmī e Śrī Gaṇeśa, plantando as sementes de mais um ano de trabalho, amor, devoção e prosperidade.

Śrī Lakṣmī

É a personificação do esplendor, da beleza, da riqueza e da prosperidade dentro da Cultura Védica.

Śrī Lakṣmī
É a śakti de Śrī Viṣṇu, usualmente retratada aos pés de lótus de seu amado, quando este é conceitualizado como Śrī Nārāyaṇa. Assim, é sua contraparte feminina e, enquanto a potência energética do Mantenedor do Universo, é aquela que concede a bênção que permite ao devoto a “identificar e compreender seus objetivos” – eis o significado de seu nome, em sânscrito – além do véu de māyā, a ilusão material que ela mesma manifesta.

É também uma das Grandes Mães do Sanātanadharma. Sob a ótica mais popular, ao lado de Śrī Sarasvatī (consorte de Śrī Brahmā, aquele que cria) e Śrī Pārvatī (consorte de Śrī Śiva, aquele que destrói/transforma), forma a Tridevī – versão feminina da Trimūrti, a Trindade Suprema do panteão hindu.

Iconografia

Em sua iconografia mais usual, aparece com quarto braços, que representam os quarto grande objetivos da humanidade: dharma (a busca pela vida justa, ética e moral), artha (desenvolvimento dos meios materiais), kāma (a realização emocional, o prazer) e mokṣa (a liberação última, alcançada através do autoconhecimento).

As flores de lótus que Śrī Lakṣmī carrega em suas mãos posteriores representam jñāna (o verdadeiro conhecimento), a autorrealização, a consciência, o karman e a pureza, através da analogia da mais linda flor de luz que nasce em meio às águas pantanosas da ignorância.

Em uma de suas mão anteriores, em abhayamudrā, ela concede a bênção do destemor, de onde jorram moedas de ouro, que simbolizam a infinita riqueza material e espiritual de sua natureza. Em sua outra mão, em varadamudrā, concede a bênção da benevolência e caridade (dāna).

Seu vāhana (montaria) é Ulūka, a coruja. Simboliza proteção, paciência, inteligência e sabedoria, mantendo-se atenta na escuridão. Todavia, por ser um animal noturno, que não enxerga de forma plena sob luz do dia, também representa a tendência natural do sādhaka (caminhante espiritual) em buscar excessiva ou exclusivamente a riqueza material em detrimento à prosperidade espiritual.

Śrī Lakṣmī possui oito manifestações secundárias, cujo conjunto é conhecido como Aṣṭalakṣmī (aṣṭa = oito, em sânscrito), relacionadas a oito fontes de riqueza, e que representam as principais potências de Śrī Mahālakṣmī, sua manifestação enquanto a Suprema Śaktidevī:

-       Ādi Lakṣmī: sua manifestação primordial, a śakti de Śrī Viṣṇu;
-       Dhana Lakṣmī: aquela que concede a riqueza material;
-       Dhānya Lakṣmī: aquela que concede a riqueza na agricultura;
-       Gaja Lakṣmī: aquela que concede o poder da realeza;
-       Santāna Lakṣmī: aquela que protege a prole;
-       Vīra Lakṣmī: aquela que concede a coragem e a força;
-       Vijaya Lakṣmī: aquela que concede a vitória sobre os obstáculos
-       Vidyā Lakṣmī: aquela que concede o conhecimento, também nas artes e ciências.

Aṣṭalakṣmī.

Śrī Gaṇeśa

Usualmente, também conhecido como Gaṇapati (“Senhor dos Gaṇas”, a guarda de Śrī Śiva), é o deus com cabeça de elefante, uma das Deidades mais populares do hinduísmo.

Śrī Gaṇeśa.

É a personificação da vijñāna (sabedoria) e de buddhi (intelecto). Resplandecente, é também Śrī Vighneśvara, o “Senhor dos obstáculos”, aquele que abre os caminhos do sādhaka para a realização material, emocional e espiritual, mas que também cria impedimentos que ajudam a fechar as portas das tentações que atrapalham o caminho dhármico.  É “a porta de entrada” do panteão hindu, bem como o Senhor da escrita e do aprendizado.

Filho de Śrī Pārvatī e Śrī Śiva, o casal cósmico, possui diversas histórias diferentes que narram seu aparecimento. Em uma das mais famosas alegorias, conta-se que teve seu corpo moldado em argila por sua mãe, com uma cabeça humana; após conferir-lhe o sopro da vida, Śrī Pārvatī designou-o como guardião de sua residência, enquanto seu pai viajava pelos Himalayas. Obteve então sua cabeça de elefante após de decapitado pelo próprio pai, que ainda não o conhecia, quando impediu que o mesmo adentrasse sua casa.

Desesperada pelo sentimento de perda de sua criança, a Senhora da Montanha (“pārvatī”, em sânscrito) projeta toda sua fúria sobre Śrī Mahādeva, , manifestando a natureza protetora de sua essência materna, transformando-se em Śrī Durgā. Assim, tomado pelo remorso, Śrī Śiva se compromete com a reverter o incidente e designa a seus servos uma busca pelo primeiro ser que fosse encontrado dormindo virado para o norte.

Retornam com uma imponente cabeça de elefante, que então substitui a que havia sido decepada. Para amenizar o desgosto de sua consorte, Śrī Śiva declara que aquele é seu primogênito, elevando-o ao status de Deidade, concedendo-lhe o comando de suas tropas e instituindo sua adoração antes de quaisquer rituais e demais atividades religiosas.

Iconografia

A cabeça de elefante de Śrī Gaṇapati apresenta uma quase que imperceptível boca e grandes orelhas, uma analogia ao “falar menos, ouvir mais”. Os grandes olhos representam a visão que alcança além da aparente realidade material e a presa quebrada representa o sacrifício dhármico de Śrī Ekadanta (“Aquele que tem somente uma presa”), que autoflagelou-se para registrar em texto a narração do grande épico Mahābhārata, ditado pelo santo Vyāsadeva.

Usualmente é representado com quatro braços. Em suas mão posteriores, segura paraśu (machado), para cortar o denso apego ao mundo material e pāśa (corda), para obstruir ou liberar o caminho do devoto. Em suas mãos anteriores, concede abhayamudrā (a bênção do destemor) e segura um pote de doces (modakas ou laḍḍus), que representam os doces frutos em recompensa ao trabalho dhármico.

Apresenta o abdômen avantajado pois carrega em si passado, presente e futuro: todo o cosmos. Também representa sua generosidade, a sincera e total aceitação e proteção que ele assegura ao Universo.

Possui diversos vāhanas, que variam de acordo com as diversas manifestações de Śrī Gaṇapati: vāsuki (a naja sagrada), mayūra (o pavão), siṃha (o leão), e, o mais famoso, mūṣaka (o rato), que representa tamoguṇa, os desejos.

Dentre as muitas manifestações de Śrī Gaṇeśa, oito delas são destacadas:

-       Vakratuṇḍa: aquele que possui a tromba curvada, representa a vitória sobre a inveja;
-       Ekadanta: aquele que possui somente uma presa, vale à superação da arrogância;
-       Mahodara: aquele que possui uma grande barriga, personifica a derrota da ilusão e da ignorância;
-       Gajānana: aquele que possui a face de um elefante, simboliza o triunfo diante da ganância;
-       Lambodara: literalmente, “o barrigudo”, representa a conquista da ira;
-       Vikaṭa: o deformado, vale ao controle dos desejos;
-       Vighnarāja: o rei dos obstáculos, personifica a superação do ego;
-       Dhūmravarṇa: aquele que possui cor de fumaça, simboliza a superação do orgulho.

O Senhor dos Obstáculos.

Assim, considerando que Śrī Lakṣmī e Śrī Gaṇeśa não são um casal propriamente dito, como Śrī Rādhākṛṣṇa ou Śrī Pārvatī e Śrī Śiva, a adoração de ambos em conjunto se dá pela similaridade e união complementar de suas simbologias, relacionadas à bem-aventurança e realização, a sutileza e doçura divinas.

Por fim, a riqueza e a prosperidade concedidas por Śrī Lakṣmī só podem ser alcançadas pelo sādhaka que superou os obstáculos de sua vida através do trabalho dhármico ensinado por Śrī Gaṇapati. Da mesma forma, de nada vale o esplendor sem sabedoria, e não se alcança a abundância sem um afiado intelecto.

Invocações Mântricas para o ritual:

श्रीलक्ष्मी
Śrī Lakṣmī

गायत्री
gāyatrī

ॐ श्महालक्ष्म्यै विद्महे
विष्णुपत्न्यै च धीमहि ।
तन्नो लक्ष्मी प्रचोदयात् ॥

auṃ mahālakṣmyai vidmahe
viṣṇupatnyai ca dhīmahi 
tanno lakṣmī pracodayāt 

Contemplamos aquela que é a Suprema Śaktidevī,
Meditamos por compreensão n’aquela que é a consorte de Śrī Viṣṇu
Reverenciamo-nos Àquela que concede a realização de nosso dharma, para que nos ilumine com sabedoria.

बीजमन्त्र
bījamantra

ॐ श्रीमहालक्ष्म्यै नमः

auṃ śrīṃ mahālakṣmyai namaḥ

Reverenciamo-nos à Suprema Saktidevī.

श्रीगणेश
Śrī Gaṇeśa

गायत्री
gāyatrī

ॐ एकदन्ताय विद्महे
वक्रतुण्डाय धीमहि ।
तन्नो दन्तिः प्रचोदयात् ॥

auṃ ekadantāya vidmahe
vakratuṇḍāya dhīmahi 
tanno dantiḥ pracodayāt 

Contemplamos aquele que possui uma única presa,
Meditamos por compreensão n’aquele que tem a tromba curvada
Reverenciamo-nos àquele que possui presas, para que nos ilumine com sabedoria.

बीजमन्त्र
bījamantra

ॐ गं गणपतये नमः

auṃ gaṃ gaṇapataye namaḥ

Reverenciamo-nos ao Senhor dos Gaas.

* Sobre os bījas:

-       śrīm: sílaba de força lunar, que remete ao amor e devoção, à beleza, à fé e à rendição. Promove o desenvolvimento positivo junto ao Esplendor Divino;
-       ga: de força solar, remete ao elemento terra e à manifestação material,  do Dharma. Promove o desenvolvimento do intelecto e da sabedoria.

Os mantras serão aprofundados em nossa aula de língua sânscrita aplicada ao mantrayoga, que acontece por volta das 21h, antes dos rituais.

Nosso satsaṅga com Ayahuasca à Śrī Mahālakṣmī Devī e Śrī Mahāgaṇapati  acontece no próximo sábado, dia 26/01 a partir das 19h.

Siga a programação dos eventos de Campinas no Facebook.

Mais informações sobre rituais no site da Ordem Polimata.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!

Todas as Glórias à Śrī Śrī Mahālakṣmī e Śrī Śrī Mahāgaṇapati.

Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,

Yuri D. Wolf.
सङ्कटमोचन

Satsaṅga à Śrī Lakṣmī e Śrī Gaṇeśa

26 de Janeiro- 19h

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Mahālakṣmī Devī e Śrī Śrī Mahāgaṇapati!

Junte-se a nós neste primeiro Satsaṅga do Templo Polimata de Campinas, agradecendo por mais um ano que se inicia junto aos pés de lótus de Śrī Mahālakṣmī e Śrī Mahāgaṇeśa.

A adoração de ambos em conjunto se dá pela similaridade e união complementar de suas simbologias, relacionadas à bem-aventurança e realização, a sutileza e doçura divinas, bem como a riqueza e a prosperidade concedidas por Śrī Lakṣmī só podem ser alcançadas pelo sādhaka que superou os obstáculos de sua vida através do trabalho dhármico ensinado por Śrī Gaṇapati.

Śrī Lakṣmī (श्रीलक्ष्मी)

É a personificação do esplendor, da beleza, da riqueza e da prosperidade dentro da Cultura Védica.

Śrī Gaṇeśa (श्रीगणेश)

Usualmente, também conhecido como Gaṇapati (“Senhor dos Gaṇas”, a guarda de Śrī Śiva), é o deus com cabeça de elefante, uma das Deidades mais populares do hinduísmo.

SÁBADO

19:00 | Abertura do templo para o ritual
20:00 | ​Jantar com sopa vegana
21:00 | Palestra sobre ayahuasca

​*Aula de Mantrayoga (Introdução ao Sânscrito aplicado ao Mantrayoga)
*Palestra referente aos passatempos da Deidade do ritual do dia

23:00 | Satsaṅga com Ayahuasca, que conta com os rituais Aṣṭottaraśatanāmāvaḷiḥ e Pūjā​
03:30 | Encerramento do Satsaṅga e descanso

DOMINGO

09:00 | Café da Manhã
​09:30 | Aplicação de Kambô*
*Os interessados devem se inscrever no dia*

VALOR
- R$120,00

Mais Informações em:

domingo, 13 de janeiro de 2019

OGUM - ARCANO VII - A CARRUAGEM

Por Beatriz Mazzini

O Carro no tarot mitológico


INTRODUÇÃO

O tarot, representando aspectos e faces da jornada espiritual e humana, relaciona-se diretamente com forças e necessidades que foram contempladas pelo culto aos orixás e que, nós, como caminhantes do polimatismo, podemos absorver de forma mais ampla, a fim de compreender melhor as partes do todo. Seguindo esse raciocínio, podemos entender que o arquétipo do orixá Ogum e do arcano VII do tarot, o Carro ou Carruagem, estão relacionados e cruzados em diversas formas, dentro das simbologias apresentadas em ambos. Explanaremos a seguir como se relacionam a lâmina e Orixá Guerreiro, a fim de entender como os aspectos dessa fase da jornada estão refletindo suas semelhanças e possuem a mesma fonte divina.
Primeiramente, faz-se necessário entender os elementos que permeiam a carta em si, e de que forma elas se relacionam com a força do arquétipo de guerreiro, denotando batalha, vitória, triunfo, movimento, ação, determinação, domínio, etc.

O Triunfo de Marco Aurelio
O TRIUNFO
Palavras-chave: vitória, triunfo, marte, guerra, roma

O triunfo, (em latim triumphus) é uma cerimonia e tradição civil e religiosa que tem origem na Roma antiga. Nesse rito, era dado o direito a um líder militar vitorioso em batalha que desfilasse em uma carruagem por uma procissão, a fim de apresentar sacrifício aos deuses e mostrar-se ganhador perante a população. Para ser um vir triumphalis (homem do triunfo), era preciso enviar uma solicitação e um relatório ao senado. O desfile triunfal colocava o vir triumphalis quase em pé de igualdade a um semideus, e era concedido apenas por mérito militar excepcional. A rota do triunfo romano tinha origem no Campo de Marte (planeta regente de Ogum e deus romano relacionado à guerra e à agricultura), uma zona pública bastante populosa do império. Apesar do caráter de homenagem e exibição do general bem sucedido, ele costumava se portar com humildade e prostrar-se perante às divindades, reconhecendo sua vitória em nome do senado, do povo e dos deuses de Roma, levando sacrifícios animais à estes. O triunfo romano é uma vívida materialização da lâmina analisada, como podemos observar nas imagens abaixo.


O Triunfo de Aemilius Paulus (Carle Vernet)


ARQUÉTIPO DE OGUM NA LÂMINA
Palavras-chave: ferro, tecnologia, armas, militarismo

O arquétipo do orixá Ogum é, necessariamente, de um guerreiro triunfante. O deus de origem yorubá é o senhor dos caminhos, das armas, das demandas, da guerra e agricultura. O militarismo, a espada, as batalhas e as vitórias estão todas relacionadas a ele. O desenvolvimento tecnológico também é creditado a esse deus, pois ele regeu a saída da humanidade da pré-história para a Idade do Ferro, momento no qual o homem obteve domínio sobre técnicas de fundição do ferro e sua utilização para ferramentas e armas, marcando assim o início de uma nova era para a humanidade. Atualmente, dentro da renovação do culto aos orixás e novas tradições, temos Ogum relacionado à guerra interna dos caminhantes espirituais que precisam vencer a si mesmos. Dessa forma encontramos seu sincretismo com São Jorge, soldado romano comumente visto em suas imagens montado em um cavalo e triunfante sobre um dragão. O cavalo de São Jorge significa os impulsos inferiores do homem que precisam ser dominados a fim de acessar a grande vitória sobre si próprio. O cavalo de Ogum, portanto, está presente na Carta e trataremos mais detalhadamente a respeito do animal em tópico próprio.


A CARRUAGEM
Palavras-chave: domínio, movimento, ação, deslocamento, determinação
Batalha de Kurukshetra

A carruagem, também conhecida como carro, representa movimento e ação. Montada em cima de rodas, nos da a idéia de deslocamento de um ponto a outro. Vista em cenários de batalhas, está presente na Guerra de Kurukshetra. Nessa batalha, Krishna e Arjuna se encontram em uma quádriga - considerada a carruagem dos deuses e heróis - e vão em direção à vitória. Na quádriga, encontramos hasteada a bandeira de Hanuman, fazendo alusão à invencibilidade. A carruagem no tarot, dominada por seu dirigente, representado com vestimentas nobres, com adornos, coroa e cetro, nos remonta à determinação e domínio. Assim como São Jorge domina seu cavalo, aquele que tomar as rédeas da própria carruagem e governar seus cavalos irá se dirigir impreterivelmente a ganhar. É a execução tomada após uma decisão, com pulso firme e júbilo, ao mesmo tempo em que é um desfile de um vencedor que já obteve sucesso. Esse é o simbolismo do invencível, do guerreiro corajoso e destemido.


O CAVALO

A medicina do cavalo é muito ampla. Tanto no arcano como no arquétipo de Ogum, ele representa a natureza inferior do homem, seus sentidos, suas forças inconscientes e o fim da desgovernança de si próprio quando enfim dominado. Ainda, é um animal que, junto com o resto da simbologia, nos remete à movimento, locomoção, caminhos, desenvolvimento e ação. É onde os guerreiros montam para irem à batalha. Não obstante, exala beleza e imponência, é um animal forte e veloz, que traz abertura de passagens e transição. Quando o homem domou o cavalo, a velocidade das viagens, antes lentas e pesarosas, tornou-se mais rápida, dinâmica e menos trabalhosa, pois agora o cavalo também carregava cargas. Isso proporcionou um avanço imenso no desenvolvimento da humanidade. Na antiguidade, possuir esses equinos era símbolo maior do poder bélico de um exército. Aquele que possuísse uma carro de guerra guiado por eles obtinha uma enorme vantagem sob seus rivais.


CONCLUSÃO

 O arquétipo do tarot e a força do Orixá se convergem em vários pontos. Ambos são figuras masculinas nobres, dominadores de cavalos, direcionadores de caminhos vitoriosos e trazem a figura do invencível, do guerreiro obstinado, da determinação em movimento, do triunfante. Ação e velocidade. Nem a carruagem e nem Ogum perdem tempo naquilo que não interessa na batalha.

O Carro no tarot de Marselha

O Carro em tarôs clássicos: Jacques Vieville (1650)  Jean Noblet (1650),  Nicolas Convert (1760) e  François Tourcaty (1800)

Beatriz Mazzini



REFERENCIAS