quarta-feira, 10 de julho de 2019

Satsaṅga de Domingo com Ayahuasca em Campinas - Śrī Ayyappa, o filho de Śiva e Viṣṇu


Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Ayyappa!

Śrī Ayyappa, em sua iconografia mais tradicional, no estilo malayala.

Na estreia de nossa Concentração Védica de Domingo com Ayahuasca, no próximo dia 14/07, às 16h no Templo Polimata de Campinas, celebraremos a misericórdia, a força e a alegria do altíssimo Senhor Śrī Ayyappa.

O Senhor Ayyappa é uma Deidade pouco conhecida no Brasil, mas muito popular no sul da Índia, principalmente nos estados do Kerala e de Tamil Nadu.

Seu nome, que na verdade é um título, assim como Bhagavan (“venerável”, para o Senhor Viṣṇu) ou Īśvara (“soberano”, para o Senhor Śiva) pode ser livremente traduzido como “Senhor Pai” nas línguas malayala (Kerala) e tâmil (Tamil Nadu).

Seu culto possui origem em uma grande combinação de tradições, tanto regionais, como cholapāṇdyaajivika, dentre outras, como também braḥmānica, tântrica, budista e jainista.

É uma das oito principais encarnações de Śrī Śāstā, uma consciência divina que manifesta-se em nosso plano como personalidades dotadas de profunda misericórdia, portadoras de grande conhecimento para auxiliar na liberação das almas condicionadas.

Ademais, dentre os Aṣṭaśāstā – as oito principais encarnações de Śrī Śāstā – tornou-se um com a personalidade de Śrī Dharmaśāstā, um grande sábio e vidente, que viveu na região da floresta de Śabarīmālā, e que foi abençoado por Śrī Rāma (a sétima encarnação de Śrī Viṣṇu) enquanto o mesmo cruzada o subcontinente indiano em direção à Laṅkā, para salvar sua amada consorte, Śrī Sītā.

Śrī Ayyappa é a Deidade que sincretiza o antigo conceito brāḥmānico de Aryaman/Indra: deuses que estão próximos dos homens e cuja natureza protetiva, aliada ao seu grande poder, preenche de confiança o coração de seus devotos.

Trata-se de uma manifestação divina em forma de um svāmī (neste caso, um yogin), originada da união entre o Senhor Śiva e a Senhora Mohinī, um avatāra feminino do Senhor Viṣṇu.

Śrī Ayyappa em iconografia mais tradicional do norte indiano.

É também é conhecido por ser o Senhor dos Fantasmas e também de todos os seres (Bhūtanātha), Aquele que dissemina conhecimento e paz (Dharmaśāstā), O professor que instrui sobre o caminho da evolução espiritual (Śāstā), Aquele que é adornado com uma jóia ou um sino em sua garganta (Maṇikaṇṭha/Maṇikaṇḍa), Aquele que é filho de Śrī Viṣṇu (Hari) e Śrī Śiva (Hara), Hariharasuta, dentre outras qualidades transcendentais.

Seus atributos cósmicos estão relacionados com o equilíbrio entre a luz e a sombra, o crescimento espiritual e material, o sacrifício devocional, o desprendimento/encaminhamento de espíritos perdidos e negativos, a purificação kármica (principalmente diante do planeta Saturno, conhecido como Śani Deva na astrologia hindu) e a identificação integral da alma individual (jīva) junto à Superalma (Paramātmān, a consciência absoluta universal).

Uma das mais famosas histórias sobre o seu advento se dá após a derrota do demônio Mahiśāsura diante da Senhora Durgā – conforme narrado no famoso texto Devī Māhātmyaṃ (ou Caṇḍī Pāṭha) –, quando então sua irmã Mahīśī parte para vingar sua morte.

Mahīśī havia obtido uma benção do Senhor Brahmā que a tornava virtualmente indestrutível: apenas uma criança nascida da força de Śrī Viṣṇu e Śrī Śiva poderia derrotá-la.

Assim, para salvar o mundo da aniquilação, o Senhor Viṣṇu encarna como a Senhora Mohinī (“aquela que ilude”, em sânscrito). Primeiramente, no famoso episódio da cosmologia hindu chamado de Samudra Manthana (“a bateção do oceano de leite”, para a obtenção do amṛta, o nectar da imortalidade), faz seu advento para iludir os asuras – demônios rivais aos devas – e roubar-lhes o halāhala, o mais tóxico veneno do universo.

Então, em sua forma feminina, Śrī Viṣṇu une-se com o Senhor Śaṅkara e então dá origem ao Senhor Śāstā.

Após o nascimento do menino – neste momento, a ser conhecido como o príncipe Maṇikaṇṭha –, seus pais depositam-no às margens do sagrado rio Pampa, no atual estado do Kerala, atendendo a um pedido de um soberano sem filhos e muito religioso, o rei Rājaśekhara.

Após a adoção do menino pelo casal real, este fora novamente abençoado com um filho, agora biológico: Rāja Rājān. Embora ambos os meninos crescessem como príncipes, Śrī Ayyappa se destacou nas artes marciais e demonstrou grande afinidade em todos os śāstras (escrituras sagradas).

Ao completar o treinamento e estudos de seus filhos, que eram ainda muito jovens, era a hora do monarca nomear o herdeiro do trono. O rei Rājaśekhara desejava que Maṇikaṇṭha fosse o seu sucessor, mas a rainha queria que seu filho fosse nomeado soberano. Então, ela cria uma série de impedimentos para o Senhor Ayyappa.

Desta forma,  a rainha encena uma doença misteriosa que só poderia ser curada com o leite de uma tigresa, o que acarretaria uma tarefa praticamente impossível de ser realizada.

O destemido garoto divino então parte para a floresta. No caminho, percebe o propósito de sua encarnação na Terra e dirige-se para o embate junto a demoníaca Mahīśī.

Após uma feroz batalha, a asurī morre nas mãos de Śrī Ayyappa, recebendo mokṣa (a liberação do círculo de nascimentos e mortes, o saṃsāra).

A vitória do garoto Maṇikaṇṭha sobre a asurī Mahīśī, sob o testemunho da jovem Śabarī.

Posteriormente, nosso herói retorna ao reino montado em uma tigresa acompanhada de seus dois filhotes, demonstrando sua natureza transcendental. Então, o rei Rājaśekhara reconhece sua divindade e o nomeia como sucessor do trono.

O retorno triunfal de nosso herói.

Todavia, devido à sua natureza monástica, Senhor Ayyappa recusa o convite e retorna à floresta para sua ascensão divina, onde eventualmente torna-se um com Śrī Dharmaśāstā.

Então, o rei Rājaśekhara pede ao arquiteto divino, Śrī Viśvakarma, o projeto de um templo para ser construído na densa floresta na qual o Senhor dos Fantasmas havia vencido Mahīśī, na região de Śabarīmālā, no mesmo local onde o Senhor Dharmaśāstā e o Senhor Rāma haviam se encontrado, cerca de 4.000 anos antes. A primeira Deidade ali instalada foi esculpida pelo Senhor Paraśurāma (a sexta encarnação de Śrī Viṣṇu).

Śabarīmālā Śrī Ayyappasvāmī Kśetraṃ, com os devotos carregando seus irumudis.

Assim sendo, o mais famoso e proeminente templo de Śrī Ayyappa, o Śabarīmālā Śrī Ayyappasvāmī Kśetraṃ, é um dos maiores centros de peregrinação de toda a Índia, recebendo cerca de 100 milhões de peregrinos anualmente.

Localizado em uma área de difícil acesso, demanda grande esforço dos devotos que desejam receber o darśana (grande bênção) do Svāmī. Ademais, um jejum de 41 dias e uma série de preparos específicos devem ser observados para esta visita tão especial.

O Templo de Śabarīmālā é feito de ouro e possui uma escada com dezoito degraus, o Patinaṭṭāṃpaṭi,  que representam a superação dos pañcendriyas(os cinco sentidos), a superação dos aṣṭarāgas – as oito emoções destruidoras: kāma (luxúria), krodha (raiva), lobha (avareza), moha(ignorância do apego), mada (orgulho), matsarya (competição desleal), asūyā (inveja), dāmbha (ato de vangloriar-se) – a superação do três guṇas(as qualidades universais: sattva (luz/bondade), rajas (paixão) e tamas(escuridão/ignorância) e, por fim, a superação de vidyā e avidyā (o conhecimento e o conhecimento errado – aquilo que se acredita saber, mas que não se sabe, de fato).

Patinaṭṭāṃpaṭi, os dezoito degraus sagrados de Śabarīmālā.

Para estarem aptos a subir pelo Patinaṭṭāṃpaṭi, os devotos devem estar apropriadamente vestidos com seus dhotis (vestimenta tradicional que lembra saiotes) na cor preta, laranja ou azul, como também devem estar carregando o irumudi sobre suas cabeças – uma pequena bolsa com provisões para a peregrinação e itens para serem oferecidos à Deidade, cuidadosamente preparados sob a orientação de seus Gurusvāmīs.

Dentre os itens presentes no irumudi, o mais significativo é o nei thenga, o coco contendo gṛhta – ghee, a manteiga clarificada.

Primeiramente, o Gurusvāmī remove a água do coco, representando a purificação do corpo e da mente do devoto após os 41 dias de jejum. Então, o mesmo preenche a fruta com o ghee, que figura como a essência do espírito do devoto.

Durante a visita, o devoto oferece o nei thenga para que os sacerdotes possam banhar a Deidade com o conteúdo do coco, que posteriormente é atirado a uma fogueira na parte exterior do templo. A simbologia é de que, após a presente experiência encarnatória, a consciência eterna do devoto (representada pelo o ghee) torna-se una com o Divino, enquanto seu corpo material (representado pelo coco) é queimado – conforme manda a tradição hindu.

A vitória diante das condutas e sentimentos condicionantes que escravizam a consciência humana, levam o devoto à bênção última do Senhor Ayyappa, que permite ao mesmo conhecer sua verdadeira natureza transcendental: a identificação total com a Consciência Divina, que é resumida na famosa frase tat tvam asi (“tu és esse”, em sânscrito).

Tat tvam asi, em malayala e sânscrito, na entrada principal de Śabarimālā.

Assim, no Templo de Śabarīmālā, devotos e Deidade são colocados no mesmo nível, condição muitíssimo incomum dentro da tradição hindu. Todos aqueles que se sujeitam aos desafios da viagem, tanto ao seu próprio interior quanto à mata fechada da região, são chamados de svāmī e obtém a graça d’Aquele que é o bastião da misericórdia.

Invocações Mântricas para o ritual:

ശ്ര്യയ്യപ്പ ഗായത്രീ
Śrī Ayyappa Gāyatrī

ഓം ഭൂതനഥായ വിദ്മഹേ
ഭവാനന്ദായ ധീമഹി
തന്നോ ശാസ്താ പ്രചോദയാത്

auṃ bhūta-nāthāya vidmahe
bhavānandāya dhīmahi 
tanno śāstā pracodayāt 

Contemplamos Aquele que é o Senhor dos fantasmas/de todos os seres,
Meditamos n’Aquele que é o regozijo da prosperidade
Reverenciamo-nos Àquele que é o professor, para que nos ilumine com sabedoria.

ശ്ര്യയ്യപ്പ മൂലമന്ത്ര ൨
Śrī Ayyappa Mūlamantra 2

സ്വാമിയേ ശരണമയ്യപ്പാ

svāmiye śaraṇaṃ-ayyappā
Ó, Pai de todos! Refugio-me em ti, o autocontrolado.


Obs.: As inscrições acima estão no alfabeto malayala, tradicional do estado do Kerala.

Mais informações no Site da Ordem e no Facebook da Agenda Polimata.

Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Pramod Śānti!
Todas as Glórias à Śrī Śāstā!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Ayyappa!


Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,

Yuri D. Wolf.
സങ്കടമോചന

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