quarta-feira, 19 de agosto de 2020
quarta-feira, 6 de maio de 2020
ॐ Śrī Nṛsiṃha Caturdaśī - 2020
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Prahlāda Mahārāja!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Nṛsiṁhadeva!
Neste ano de 2020, o Narasimha Jayanti, aniversário de manifestação do Śrī Nṛsiṁhadeva, é celebrado no dia de hoje, 6 de maio.
Śrī Nṛsiṁhadeva, enquanto quarto avatar de Śrī Viṣṇu, meio homem meio leão, se manifesta para derrotar o asura Hiraṇyakaśipu, um rei demônio que vinha causando grande desequilíbrio no universo.
Quanto a clássica história de devoção, pureza e superação do Senhor Prahlāda Mahārāja, bem como diversas outras informações desta importante deidade vaiṣṇava, podemos revisitar a postagem anterior de nosso querido irmão Yuri.
O exemplo de pureza e devoção do Senhor Prahlāda Mahārāja, que foi capaz de vencer mesmo seu pai, um asura que foi capaz de subjugar o plano celestial, pode nos dar um lampejo das possibilidades de realização daquele que manifesta a fé e da devoção de forma pura e desinteressada.
Podemos também tirar lições até mesmo das ações do asura Hiraṇyakaśipu. De forma semelhante a outros exemplos históricos, como seu irmão Hiraṇyākṣa, o asura Tārakāsura e Rāvaṇa, Hiraṇyakaśipu conseguiu conquistar seus poderes e capacidades através de grandes sacrifícios, e até mesmo devoção. No entanto, apesar de seus grande méritos, Hiranyakashipu e os exemplos citados falharam ao desejar e ao praticar ações que iam em sentido contrário ao dharma, principalmente através de ações impiedosas.
Conforme nosso querido gurudeva nos lembra em seus satsangas, bem como um de nossos hinos à Śrī Nṛsiṁhadeva, Aquele que nos aparece como meio homem meio leão, através de suas grandeza e de suas garras, sempre protege os seus devotos que demonstram valor.
Invocações mântricas referentes a Śrī Nṛsiṁhadeva:
श्रीनृसिंह गायत्री
śrī nṛsiṃha gāyatrī – mantra de invocação da Deidade
ॐ वज्रनखाय विद्महे
तिक्ष्णदंष्ट्राय धीमहि ।
तन्नो नारसिंहः प्रचोदयात् ॥
auṃ vajra-nakhāya vidmahe
tikṣṇa-daṃṣṭrāya dhīmahi ।
tanno nṛsiṃhaḥ pracodayāt ॥
“Meditamos no naquele cujas garras são como raios, contemplamos aquele cujas presas são muito afiadas.
Reverenciamo-nos ao homem-leão, para que nos ilumine com sabedoria”.
श्रीनृसिंह बीजगयत्रि
śrī nṛsiṃha bījamantra – manta de repetição que contém o fonema seminal da Deidade
॥ॐ क्ष्रौं नारसिंहाय नमः ॥
॥ auṃ kṣraum nārasiṃhāya namaḥ ॥
“Reverencio-me ao homem-leão”.
- Sobre o bīja kṣraum: é um som seminal do Deus-leão, cuja força reside invoca a superação do medo diante das situações mais obscuras, como também a liberação de energia reprimida e a destruição de poderes demoníacos.
Namaskāram.
quarta-feira, 11 de março de 2020
Satsaṅgas à Śrī Kārttikeya
Satsaṅga à Śrī Kārttikeya
Templo Polimata Campinas
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Kārttikeya!
Neste mês de março, com muito amor e devoção, celebraremos o nosso primeiro Satsanga nos reverenciando à Śrī Kārttikeya.
Também conhecido por Muruga, Shanmuga, Skanda, Subramanya, dente outros nomes. É a principal deidade cultuada na região sul da Índia, principalmente onde a língua Tamil é falada. No entanto, é uma deidade cultuada também em outras regiões como China, Indonésia, Sri Lanka, bem como em outras tradições para além da shivaíta, como no Jainismo e no budismo.
Existem diversas versões a respeito da história do nascimento de Śrī Kārttikeya. Em algumas histórias ele é tido como filho de Śrī Agni, o Deus do Fogo. De acordo com o Skanda Purana (escritura sagrada) Śrī Kārttikeya é tido como o filho mais velho de Śrī Mahadeva e Śrī Parvati. É dito também que Śrī Kārttikeya não foi nascido do ventre de Śrī Parvati, devido a uma maldição que Ela recebeu de Rati, consorte de Kama Deva, que faria com que ela não fosse capaz de gerar um filho.
O advento de Śrī Kārttikeya se deu com no contexto em que Tarakasura, um demônio que havia recebido uma benção de Śrī Mahadeva, vinha causando grande distúrbio na criação. A benção que Taraksura havia recebido, fazia com que ele poderia ser morto apenas por um filho de Śrī Mahadeva. Essa benção foi pedida por ele ao grande Deus, com o conhecimento de que Śrī Mahadeva era um renunciado e, dessa forma, não poderia ter filhos.
Após a união de Śrī Śiva e Śrī Parvati, sabendo da maldição que Ela havia recebido, Śrī Śiva e Śrī Parvati se colocaram a meditar me uma caverna, até que uma bola de fogo surgiu a partir de suas energias cósmicas. Os Devas, preocupados com a situação e com a ameaça de Tarakasura, enviaram Śrī Agni, que não pôde lidar com aquela bola de energia. Então, ele levou esta bola até Śrī Gaṅgā, que também não conseguiu lidar com tanto calor. Ela então colocou a bola em um lago, em uma floresta de juncos.
Então, Śrī Parvati tirou essa bola de energia a qual somente ela poderia lidar. Assim, a bola tomou a forma de um bebê de seis faces. Dessa forma, Śrī Kārttikeya ganhou o nome de Śrī Śhanmukha, ou Deus de Seis Faces. Inicialmente ele foi visto e cuidado por seis ninfas aquáticas que representam as plêiadas, ou Krittikas, daí seu nome Kārttikeya.
Śrī Kārttikeya, então, derrota Tarakasura e é tido como o grande general dos Devas.
Por conta disso, um de seus principais aspectos é o de ser conhecido como o deus da guerra. Śrī Muruga tem a lança como sua principal arma, sua montaria é o pavão e também é conhecido por ter seis faces.
Śrī Muruga foi inicialmente uma deidade unicamente dentro do contexto Tamil, retratada na cosmogonia e narrativas dravidinas. Posteriormente foi adotada pelas regiões nortenhas da Índia.
Invocações mântricas para o ritual:
Śrī Kārttikeya Gāyatrī
ॐ तत् पुरुषाय
विद्महेमहासेनाय धीमहि।
तन्नो स्कन्दः प्रचोदयात्॥
oṃ tat puruṣāya vidmahe
mahā-senāya dhīmahi ।
tanno skandaḥ pracodayāt ॥
Contemplamos Aquele que é o ser primordial,
Meditamos n’Aquele que é o grande general.
Reverenciamo-nos ao atacante/ao símbolo da fertilidade, para que nos ilumine
com sabedoria
Śrī Kārttikeya Mūlamantra
ॐ शरवणभवाय नमः
oṃ śaravaṇabhavāya namaḥ
Reverências Àquele que nascido em uma moita de juncos.
Acompanhe a nossa agenda na página Agenda Polimata.
Ara Haro Hara !!!
(saudação à Śrī Kārttikeya)
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Minhas mais humildes reverências.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
ॐ Satsaṅgas à Śrī Lakṣmī e Śrī Gaṇeśa - Encerramento de 2019
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārājācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Mahālakṣmī Devī e Śrī Śrī Mahāgaṇapati!
Neste mês de dezembro, nos Templos da Ordem Polimata, celebramos o encerramento de mais um ciclo junto aos pés de lótus de Śrī Mahālakṣmī e Śrī Gaṇeśa, agradecendo as oportunidades concedidas em mais uma ano de muito trabalho, superação e devoção.
Śrī Lakṣmī
É a personificação do esplendor, da beleza, da riqueza e da prosperidade dentro da Cultura Védica.
É a śakti de Śrī Viṣṇu, usualmente retratada aos pés de lótus de seu amado, quando este é conceitualizado como Śrī Nārāyaṇa. Assim, é sua contraparte feminina e, enquanto a potência energética do Mantenedor do Universo, é aquela que concede a bênção que permite ao devoto a “identificar e compreender seus objetivos” – eis o significado de seu nome, em sânscrito – além do véu de māyā, a ilusão material que ela mesma manifesta.
É também uma das Grandes Mães do Sanātanadharma. Sob a ótica mais popular, ao lado de Śrī Sarasvatī (consorte de Śrī Brahmā, aquele que cria) e Śrī Pārvatī (consorte de Śrī Śiva, aquele que destrói/transforma), forma a Tridevī – versão feminina da Trimūrti, a Trindade Suprema do panteão hindu.
Iconografia
Em sua iconografia mais usual, aparece com quarto braços, que representam os quarto grande objetivos da humanidade: dharma (a busca pela vida justa, ética e moral), artha (desenvolvimento dos meios materiais), kāma (a realização emocional, o prazer) e mokṣa (a liberação última, alcançada através do autoconhecimento).
As flores de lótus que Śrī Lakṣmī carrega em suas mãos posteriores representam jñāna (o verdadeiro conhecimento), a autorrealização, a consciência, o karman e a pureza, através da analogia da mais linda flor de luz que nasce em meio às águas pantanosas da ignorância.
Em uma de suas mão anteriores, em abhayamudrā, ela concede a bênção do destemor, de onde jorram moedas de ouro, que simbolizam a infinita riqueza material e espiritual de sua natureza. Em sua outra mão, em varadamudrā, concede a bênção da benevolência e caridade (dāna).
Seu vāhana (montaria) é Ulūka, a coruja. Simboliza proteção, paciência, inteligência e sabedoria, mantendo-se atenta na escuridão. Todavia, por ser um animal noturno, que não enxerga de forma plena sob luz do dia, também representa a tendência natural do sādhaka (caminhante espiritual) em buscar excessiva ou exclusivamente a riqueza material em detrimento à prosperidade espiritual.
Śrī Lakṣmī possui oito manifestações secundárias, cujo conjunto é conhecido como Aṣṭalakṣmī (aṣṭa = oito, em sânscrito), relacionadas a oito fontes de riqueza, e que representam as principais potências de Śrī Mahālakṣmī, sua manifestação enquanto a Suprema Śaktidevī:
- Ādi Lakṣmī: sua manifestação primordial, a śakti de Śrī Viṣṇu;
- Dhana Lakṣmī: aquela que concede a riqueza material;
- Dhānya Lakṣmī: aquela que concede a riqueza na agricultura;
- Gaja Lakṣmī: aquela que concede o poder da realeza;
- Santāna Lakṣmī: aquela que protege a prole;
- Vīra Lakṣmī: aquela que concede a coragem e a força;
- Vijaya Lakṣmī: aquela que concede a vitória sobre os obstáculos
- Vidyā Lakṣmī: aquela que concede o conhecimento, também nas artes e ciências.
śrī vakratuṇḍa mahākāya sūrya koṭī samaprabhā।
nirvighnaṃ kuru me deva sarva-kāryeśu sarvadā॥
(Reverências) ao Senhor que tem uma tromba curva, que possui um corpo grande, que tem o esplendor de um milhão de sóis ।
Ó Deva, faça com que minhas empreitas sejam livres de obstáculos, estendendo suas bençãos à todos os meus trabalhos, sempre ॥
Usualmente, também conhecido como Gaṇapati (“Senhor dos Gaṇas”, a guarda de Śrī Śiva), é o deus com cabeça de elefante, uma das Deidades mais populares do hinduísmo.
É a personificação da vijñāna (sabedoria) e de buddhi (intelecto). Resplandecente, é também Śrī Vighneśvara, o “Senhor dos obstáculos”, aquele que abre os caminhos do sādhaka para a realização material, emocional e espiritual, mas que também cria impedimentos que ajudam a fechar as portas das tentações que atrapalham o caminho dhármico. É “a porta de entrada” do panteão hindu, bem como o Senhor da escrita e do aprendizado.
Iconografia
A cabeça de elefante de Śrī Gaṇapati apresenta uma quase que imperceptível boca e grandes orelhas, uma analogia ao “falar menos, ouvir mais”. Os grandes olhos representam a visão que alcança além da aparente realidade material e a presa quebrada representa o sacrifício dhármico de Śrī Ekadanta (“Aquele que tem somente uma presa”), que autoflagelou-se para registrar em texto a narração do grande épico Mahābhārata, ditado pelo santo Vyāsadeva.
Usualmente é representado com quatro braços. Em suas mão posteriores, segura paraśu (machado), para cortar o denso apego ao mundo material e pāśa (corda), para obstruir ou liberar o caminho do devoto. Em suas mãos anteriores, concede abhayamudrā (a bênção do destemor) e segura um pote de doces (modakas ou laḍḍus), que representam os doces frutos em recompensa ao trabalho dhármico.
Apresenta o abdômen avantajado pois carrega em si passado, presente e futuro: todo o cosmos. Também representa sua generosidade, a sincera e total aceitação e proteção que ele assegura ao Universo.
Possui diversos vāhanas, que variam de acordo com as diversas manifestações de Śrī Gaṇapati: vāsuki (a naja sagrada), mayūra (o pavão), siṃha (o leão), e, o mais famoso, mūṣaka (o rato), que representa tamoguṇa, os desejos.
Dentre as muitas manifestações de Śrī Gaṇeśa, oito delas são destacadas:
- Vakratuṇḍa: aquele que possui a tromba curvada, representa a vitória sobre a inveja;
- Ekadanta: aquele que possui somente uma presa, vale à superação da arrogância;
- Mahodara: aquele que possui uma grande barriga, personifica a derrota da ilusão e da ignorância;
- Gajānana: aquele que possui a face de um elefante, simboliza o triunfo diante da ganância;
- Lambodara: literalmente, “o barrigudo”, representa a conquista da ira;
- Vikaṭa: o deformado, vale ao controle dos desejos;
- Vighnarāja: o rei dos obstáculos, personifica a superação do ego;
- Dhūmravarṇa: aquele que possui cor de fumaça, simboliza a superação do orgulho.
Assim, considerando que Śrī Lakṣmī e Śrī Gaṇeśa não são um casal propriamente dito, como Śrī Rādhākṛṣṇa ou Śrī Pārvatī e Śrī Śiva, a adoração de ambos em conjunto se dá pela similaridade e união complementar de suas simbologias, relacionadas à bem-aventurança e realização, a sutileza e doçura divinas.
Por fim, a riqueza e a prosperidade concedidas por Śrī Lakṣmī só podem ser alcançadas pelo sādhaka que superou os obstáculos de sua vida através do trabalho dhármico ensinado por Śrī Gaṇapati. Da mesma forma, de nada vale o esplendor sem sabedoria, e não se alcança a abundância sem um afiado intelecto.
Invocações Mântricas para o ritual:
श्रीलक्ष्मी
Śrī Lakṣmī
गायत्री
gāyatrī
ॐ श्महालक्ष्म्यै विद्महे
विष्णुपत्न्यै च धीमहि ।
तन्नो लक्ष्मी प्रचोदयात् ॥
auṃ mahālakṣmyai vidmahe
viṣṇupatnyai ca dhīmahi ।
tanno lakṣmī pracodayāt ॥
Contemplamos aquela que é a Suprema Śaktidevī,
Meditamos por compreensão n’aquela que é a consorte de Śrī Viṣṇu
Reverenciamo-nos Àquela que concede a realização de nosso dharma, para que nos ilumine com sabedoria.
बीजमन्त्र
bījamantra
ॐ श्रीमहालक्ष्म्यै नमः
auṃ śrīṃ mahālakṣmyai namaḥ
Reverenciamo-nos à Suprema Saktidevī.
श्रीगणेश
Śrī Gaṇeśa
गायत्री
gāyatrī
ॐ एकदन्ताय विद्महे
वक्रतुण्डाय धीमहि ।
तन्नो दन्तिः प्रचोदयात् ॥
auṃ ekadantāya vidmahe
vakratuṇḍāya dhīmahi ।
tanno dantiḥ pracodayāt ॥
Contemplamos aquele que possui uma única presa,
Meditamos por compreensão n’aquele que tem a tromba curvada
Reverenciamo-nos àquele que possui presas, para que nos ilumine com sabedoria.
बीजमन्त्र
bījamantra
ॐ गं गणपतये नमः
auṃ gaṃ gaṇapataye namaḥ
Reverenciamo-nos ao Senhor dos Gaṇas.
* Sobre os bījas:
- śrīm: sílaba de força lunar, que remete ao amor e devoção, à beleza, à fé e à rendição. Promove o desenvolvimento positivo junto ao Esplendor Divino;
- gam: de força solar, remete ao elemento terra e à manifestação material, do Dharma. Promove o desenvolvimento do intelecto e da sabedoria.
Para mais informações, acompanhe a nossa agenda em Agenda Polimata e no nosso site www.ordempolimata.com.br
Minhas mais humildes reverências.
*Meus sinceros agradecimentos à Yuri D. Wolf, autor do texto original, que foi aqui adaptado, e grande irmão de caminhada espiritual.
terça-feira, 26 de novembro de 2019
TAROT DE MARSELHA E YABÁS – UMA POSSÍVEL RELAÇÃO
TAROT DE MARSELHA E YABÁS – UMA POSSÍVEL RELAÇÃO
Beatriz Mazzini
Para entender como
as yabás estão presentes nos arquétipos dos arcanos maiores do
tarot de Maselha e vice e versa, é necessário traçar um raciocínio
inicial que demonstra onde se inaugura essa percepção. De acordo
com C.G. Jung, nossa psique não se resume ao que temos de bagagem
individual, como são os acontecimentos e experiências de nossas
vidas e nossa narrativa e trajetória enquanto indivíduos. Existe,
para além da psiquê em cada ser, um outro compartimento onde todos
os registros da humanidade se aglutinam de forma residual e se
manifestam através da simbologia, atualizando-se com a repetição.
É o inconsciente coletivo, potencial
compartilhado por toda a humanidade e que se concretiza no tarot
através da sincronicidade. Sincronicidade, para todos os
efeitos, é um método pelo qual o inconsciente direciona uma energia
para trazer a tona uma percepção e conduzir a um insight em
busca da individuação de cada ser.
Isto posto, é
salutar reconhecer a simbologia dos arcanos como potencial ilimitado,
no qual é possível, através de associações, transcender e
englobar deidades do panteão africano como integrativas do ser
humano e sua psique. Sendo assim, passamos à observação das
relações traçadas abaixo entre as cartas e as deusas.
A
IMPERATRIZ – YEMANJA
A Imperatriz é o
arcano número três do tarot, o que por si só já denota e intui um
principio gerador, no qual 1 +1 é igual a um terceiro. Esse
princípio gerador é a característica fundamental de Yemanjá,
conhecida por ser a sereia detentora de todo o poder criativo e mãe
de todos os orís.
O arquétipo de rainha da imperatriz manifesta a mesma nobreza
coroada da qual faz jus Yemanjá, cujo consorte é Oxalá – rei de
todos os orixás. Do alto de sua posição, ambas dão a luz à todos
os heróis e heroínas, representam sua profundidade inesgotável de
fecundidade e se encontram no princípio marítimo feminino de onde
toda a vida surge.
Ligada também ao
sustento e a prosperidade, de um lado idolatrada pelos pescadores que
do mar retiram redes fartas de peixes por ela cedidos, de outro
fornecendo à humanidade o sustentáculo inicial da vida: o
aleitamento materno, essa mãe é quem gera junto a nós a fartura, a
abundância e a própria vida – conceito que só se sustenta em
progressão.
Uma mulher
benevolente cuja autoridade jamais é questionada. É sentimentalismo
e serenidade vertendo da mesma fonte. Seu maior atributo é a força
do amor que multiplica, constrói, prospera e manifesta a partir do
zero. É, ainda, um poderio direcionado ao concreto, palpável, pois
a força do parto empurra sua criação para a terra, onde ela se
manifesta e nutre para que tudo abunde. É a matriarca que sabe onde
as coisas estão e em que horário e dia cada atividade deve ser
realizada, visando sempre a ordem e o progresso de seus rebentos e a
sustentação da estrutura basal de todo o equilíbrio.
Uma gota d’água
da Imperatriz contém todo o oceano. Uma centelha, uma fagulha de
Yemanjá contém todo o universo de um novo ser humano a ser gerado.
Sua caridade é expandida de modo geométrico e sem barreiras e toda
sua energia pode se concentrar em transformar o círculo em
manifestações do universo. O óvulo se transforma em barriga e
assim surge um novo ser. O potencial criativo se aglutina na
Imperatriz e ela gera o produto de si mesma, de sua corrente
canalizadora divina e fecunda, como uma verdadeira sereia cuja
sexualidade está acima da humana. Trazem dentro de si o mesmo
fragmento do Deus ilimitado que, nesse momento, é Deusa.
A
ESTRELA – OXUM
É bastante óbvia
a aderência entre ambos os arquétipos Oxum e Estrela em um primeiro
plano pela manifestação fluvial de suas energias. A mulher
representada na carta do tarot de Marselha está literalmente na
beira do rio, como descrevem diversos cânticos da Yabá. Uma carta
essencialmente feminina, na qual sua figura tem nas mãos o
derramamento e o fluxo de suas emoções sem contudo perder o olhar
de calmaria e o apoio em sua perna esquerda, seu lado mulher.
Esta condutividade
se encarrega de nos guiar (as estrelas sempre foram os guias daqueles
que navegam) à pureza, ao brilho próprio e à sensibilidade.
Esplendorosamente serena, fértil, é uma veia pulsante de compaixão
e placidez. Como a orixá, é quem passa pelas pedras sem se reter ou
se demorar, trazendo para seus regidos um forte traço de
adaptabilidade. O amarelo de Oxum é presente nos grãos de areia que
cingem o rio, frutificando brotos por onde passa. Ainda assim, o céu
é notívago e mostra a capacidade do brilho romper a escuridão.
Interessante
ressaltar que a Estrela sobreveio à Torre, sinônimo de ruptura,
perda ou dor. É esperança e acolhimento se manifestando, nossa
essência benevolente que sobrevive à tragédia, a sorte de ter
reencontrado o colo e o seio do amor incondicional do destino na
forma de uma mãe/mulher aconchegante e hospitaleira.
Como astro, sabemos
que antigamente o planeta Vênus era conhecido como estrela da manhã.
Tudo se intercala quando identificamos que esse planeta, interpretado
como estrela e tão fêmeo é, também, Afrodite, a deusa da beleza e
do amor, assim como nossa mãe Oxum. Sabe-se através de diversos
itans contados ao longo da tradição oral e, hoje em dia, escrito,
que Oxum sempre foi a menina mais bela do panteão africano.
A
FORÇA – IANSÃ
Consorte de Xangô
e Ogum, a justiça e a lei, Iansã é a personificação da força
guerreira. Seu arquétipo sempre nos remete a uma mulher destemida,
ou seja, completamente isenta de fobias, sempre determinada e
impetuosa, regendo intensamente a força da tempestade, ventania,
raios e trovões, de forma energética e arrojada. É uma mulher que
domina a natureza e a tem sob seu controle, sem em nenhum momento se
mostrar como submissa ou subserviente.
Da mesma maneira, o
arcano XI de nosso tarot performa energia congênere ao ser ilustrado
pela mulher que doma o leão, segurando suas mandíbulas de modo a
submetê-lo, de forma serena e posicionada em pé com tranquilidade.
Talvez, o grande lampejo feminino na carta da força é o mesmo que
Iansã esclarece: a força bestial e inferior não é dominada de
outra forma senão com sua pulsão contrária, a calmaria, a
segurança e o domínio pacífico da inferioridade.
Iansã – a Força – tem a coragem sob suas mãos de forma
despreocupada e impassível, sob o símbolo do leão, imagem que
carrega a idéia da besta voraz, os instintos violentos contidos em
cada ser humano. Isso não significa que Iansã, ou a Força, seja
flácida, frouxa, apática ou indolente. É o exato oposto: o
equilíbrio das duas medidas aparentemente opostas (pacifismo e ação)
resulta em positividade, movimento, direcionamento e evolução.
A energia leonina e
solar costuma nos aludir a um lado masculino da psique, da mesma
forma que contrariamente a lua nos alude ao feminino. Esse rompante
tem seu lado positivo, oposto à bestialidade, como tudo que está
contido na dualidade. É a criação da luz através da combustão,
faísca que se transforma em rojão rompendo a escuridão. Em suma, é
a energia feminina em perfeita consonância com a determinação
somada a um resultado, ou seja, a Força em si.
A
PAPISA/SACERDOTISA – NANÃ
A sabedoria
internalizada e intuitiva que promove alterações internas cujo
domínio está sob o arcano da Papisa só poderia ser integrada e
caber na figura de Nanã, a mais velha e sábia de todas as yabás.
Esse arquétipo é muito mais sensível às forças religiosas e
espirituais, afastando-se mais do concreto regido pela
Imperatriz/Yemanjá.
Nesse momento, as
forças psíquicas femininas estão voltadas para o sagrado e para o
domínio dos mundos além do material, os conhecimentos a respeito da
vida e da morte e das dimensões internas do ser. A paciência, a
observação e a sapiência atemporal que penetra o além e o antes
estão contidas Nela.
Símbolo de
iniciação e revelação mística, Nanã é a senhora do barro, das
profundezas lamacentas e das águas ancestrais onde estão escondidos
os mistérios da criação, sustentação e destruição que regem o
universo. Como a Papisa, carrega em si a bagagem da gnose, da piedade
dos anciãos iluminados e da santidade. Seu terreno de atuação é
intuitivo, mesclando a completa instrução com a mais sincera
humildade. O entendimento e a compreensão adquiridos nessa faceta da
jornada penetram um ângulo de beatitude e bem-aventurança com a
clariaudiência da voz interior mais íntima.
Nanã é o estanque
da fertilidade, a menopausa feminina, que representa a superação da
fase sexual e reprodutiva para o recolhimento ascético rodeado pela
experiência. Essa fase é a nobre mulher coroada de Marselha,
vestida como majestade e sob a qual repousa um livro aberto cujo
conhecimento não está escuso, ainda que sob seu poder.
CONCLUSÃO
Os elementos
arquetípicos presentes no tarot de Marselha não encontram
dificuldades para recepcionar as energias femininas das orixás do
panteão africano conhecidas como yabás. Muitas características em
comum permeiam a jornada da humanidade independentemente da
representação material imagética que se façam delas. Nesse caso,
defendemos a ideia de que o inconsciente coletivo se manifesta nas
culturas de formas diferentes mas que ao mesmo tempo são paralelas e
similares. Assim, podemos concluir que as forças convergem para um
mesmo entendimento e integração da psique, através dos insights
que nos levam a progredir no caminho da individuação como seres em
evolução.
REFERÊNCIAS
http://colegiodeumbanda.com.br/site/orixas/
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