Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Durgā e à Śrī Śrī Mahākālī!
Neste
mês de setembro, nos Templos Polimata de Boituva, Mairiporã ,
Campinas e Jundiaí, celebraremos o esplendoroso Navarātri em
nossos Satsaṅgas. Trata-se do festival das nove noites (nava, nove;
rātri noite,
em sânscrito). As formas e datas de celebração deste festival
variam regionalmente na Índia. No entanto, o mais celebrado deles é
o Sharada Navarātri,
comemorado entre os meses de setembro e outubro. Neste caso, as
manifestações femininas são o centro das festividades.
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Śrī Durgā e Śrī Kālī |
O
culto à Deusa, Devī,
passou por diversos momentos dentro da história do hinduísmo, desde
sua era pré védica (há cerca de 4.000 anos atrás) até o seu
momento atual, após ter passado por muitas reformas e mudanças.
Ainda
que ele existisse desde períodos mais remotos e em contextos
próximos a uma realidade tribal, e mesmo posteriormente de forma
mais estrita e regionalizada, o culto à Deusa desenvolveu-se de
forma mais evidente a partir do surgimento dos Purāṇas
(“antigos”, em sânscrito), escrituras sagradas que são mais
acessíveis para as castas não sacerdotais.
Nesse
sentido, destaca-se Śrī Durgā (“inacessível, invencível”),
como uma das principais deidades femininas dotadas de atributo dentro
do culto à Deusa. Inicialmente, Ela é identificada sozinha, e não
como consorte de algum outro deus, com papel secundário.
Posteriormente, após um processo de sincretização, ela é
identificada enquanto uma das manifestações de Śakti (potência,
força, energia Divina).
Śrī
Durgā aparece
dentro das escrituras sagradas no devīmāhātmyam,
um
dos textos presentes no Markandeya Purāṇa,
em
que se descreve Devī
enquanto
o poder supremo e criador do universo.
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Śrī Durgā |
O
texto narra também diversas batalhas entre os Devas e os Asuras.
Nesses casos, de forma recorrente, os desequilíbrios só conseguem
ser superados e as batalhas vencidas através da invocação de Śakti,
quando
os Deuses não mais conseguem sair vitoriosos.
Conforme
descrito no Devī Māhātmya, versos 54-60, traduzidos por João C.
B. Gonçalves.
“Tu
és Svāhā! Tu és a oblação! Tu és a exclamação Vaṣat! És a
essência da linguagem! Tu és o néctar! Tu estás nos três tempos
da sílaba eterna! Mesmo eterna, tu estás no meio tempo, que soa
indistintamente. Tu és a própria Sāvitrī, tu és a suprema deusa
mãe| Por ti tudo isto se sustenta. Por ti este mundo é criado. Por
ti é protegido, ó Deusa, e no final é sempre destruído! Com a
forma criadora na origem, com a forma sustentadora na proteção, e
com a forma destruidora no final deste mundo, ó mayā do mundo! A
grande sabedoria, a mahāmāyā, a grande inteligência, a grande
memória, a grande inconsciência, tu és a Grande Deusa, a grande
soberana!Tu és a prakṛti, e tens o poder total sobre os três
guṇa. Tu és a noite dos tempos, tu és a grande noite, és a
violenta noite da inconsciência! Tu és Śrī, Īśvarī, tu és a
modéstia, tu és a consciência caracterizada pela cognição. Tu és
a vergonha, tu és a opulência, assim como a alegria, a
tranquilidade e a paciência! ”
É
através deste profundo clamor que a Deusa é colocada como superior
à Trimurti (trindade Brahmā-Viṣṇu-Śiva), embasando a tradição
Śakta, que coloca Śakti (a Deusa) como a figura central do panteão
hindu.
Ainda
no contexto do devīmāhātmyam,
Śrī Kālī manifesta-se durante
uma das mais intensas batalhas contras o Asura Mahiṣāsura,
o demônio-búfalo que representa o egoísmo e a ignorância, que
derrotou o rei dosdevas,
o Senhor Indra, e usurpou o controle do plano celestial.
Durante
a batalha de Śrī Durgā contra
Cānda e Muṇḍa, Asuras
que
personificam a paixão e a ira, respectivamente e
que eram grandes generais de Mahiṣāsura,
Śrī Kālī manifesta-se
a partir da fúria de Śrī Durgā,
conforme descrito no Devī Māhātmya:
"Das
sobrancelhas de sua testa brotou imediatamente Kālī, com sua face
assustadora, carregando espada e laço. Ela portava um estranho
bastão coroado por um crânio e tinha uma guirlanda de cabeças
humanas, estava envolta em uma pele de tigre, e parecia horrorosa com
sua pele macilenta, sua boca escancarada, aterrorizando com sua
língua para fora, com olhos afundados e vermelhos, e uma boca que
enchia os quatro cantos com rugidos."
Com
grande violência e sem qualquer dificuldade, Śrī Kālī decapita
Cānda e Muṇḍa, que lhe dá o título de Cāmuṇḍā,
elevando-a ao nível de uma mātṛkā (Divina Mãe).
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Śrī Kālī |
Neste
episódio, ocorre a famosa batalha contra o demônio Raktabīja –
cujo nome significa “semente de sangue” – que tinha o poder de
multiplicar-se para cada gota de sangue sua que tocasse o solo. Para
derrotá-lo, Śrī Kālī bebe o sangue das feridas abertas antes que
este chegasse ao chão.
A
forma como se concebe Kālī é muito antiga e tem se modificado com o
passar de diversos contextos históricos.
Na região do vale do já extinto rio Sarasvatī, há registros de um
conceito de conflito da dualidade entre o selvagem e o domado há
mais de 4.000 anos que remete à Kālī. Há
também referências à Ela em diversas escrituras védicas, desde os
Vedas aos Purāṇas.
Ligada
à direção do sul, menos auspiciosa, tradicionalmente identificada
com Yama, deus da morte, é indicada como uma das versões
“primitivas” de Śrī Kālī, que possui uma representação
registrada posteriormente como Dakṣiṇakālī (que pode ser
livremente traduzido como “a que vem do sul”).
Todavia,
o mistério de Śrī Kālī simultaneamente transcende e envolve
todas as diferentes visões sobre sua origem. Mesmo
assim, há alguns aspectos que não divergem: a
sua cor é negra; ela está sempre nua, ainda que use ornamentos; um
terceiro olho na testa que emite fogo, uma língua esticada e uma
boca suja de sangue que quando se expande engole uma infinidade de
demônios; usualmente uma de suas mãos está em abhaya mudra,
representando o destemor, a ausência de medo.
No
macrocosmos, Mahākālī é a potência feminina do tempo (kāla),
que move o universo manifesto e tudo devora. A Escura Mãe (“Dark
Mother”,
como é popularmente conhecida em inglês) é a eterna energia da
evolução, cujas ações gradualmente manifestam as possibilidades
divinas. Demonstra que as sucessivas mortes são o caminho para a
imortalidade, e que sua escuridão é o momento que precede a aurora.
Ela reside os campos de
batalha enquanto Cāmuṇḍā
e
quando não está em batalha reside os crematórios sob a forma de
Śmaśāna
Kālī, onde Ela tudo dissolve.
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Kālarātri - A noite cósmica |
Invocações mântricas para o ritual:
श्रीदुर्गा
śrī durgā
गायत्री
gāyatrī (métrica de 24 sílabas, usualmente utilizada na invocação das Deidades)
ॐ कत्यायिन्यै विद्महे
कान्यकुमार्यै धीमहि ।
तन्नो दुर्गा प्रचोदयात् ॥
oṃ katyāyinyai vidmahe
kānyakumāryai dhīmahi ।
tanno durgā pracodayāt ॥
“Contemplamos Aquela que é filha da perfeição,
Meditamos na Menina Pura.
Reverenciamo-nos à Inaccessível, para que nos ilumine com sabedoria.”
बीजमन्त्र
bījamantra (contém a sílaba mística raiz da Deidade – para ser repetido 108 vezes na contagem da japamālā)
ॐ दुं दुर्गायै नमः
oṃ duṃ durgāyai namaḥ
Reverencio-me à Inacessível, à Invencível.
श्रीमहाकाली
śrī mahākālī
गायत्री
gāyatrī
ॐ कालिकायै विद्महे
श्मशानवासिन्यै धीमहि ।
तन्नो काली प्रचोदयात् ॥
oṃ mahā-kālyai ca vidmahe
śmaśāna-vāsinyai ca dhīmahi ।
tanno kālī pracodayāt ॥
“Contemplamos Aquela que é o tempo e a escuridão
Meditamos n’Aquela que reside nos crematórios
Reverenciamo-nos Àquela que possui cor escura / que devora tudo como o tempo, para que nos ilumine com sabedoria.”
दक्षिणकालिका बीजमन्त्र
dakṣiṇakālikā bījamantra
ॐ क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं दक्षिणे कालिके ।
क्रीं क्रीं क्रीं हूं हूं ह्रीं ह्रीं स्वाहा ॥
oṃ krīṃ krīṃ krīm hūṃ hūṃ hrīm hrīm dakṣiṇē kālike
krīṃ krīṃ krīṃ hūṃ hūṃ hrīṃ hrīṃ svāhā
“Aquela que move o corpo sutil à Infinita Perfeição e além, corte-me o ego!
Ofereço minhas oblações à Mãe que dissolve a escuridão através da Potência Divina, que move o corpo sutil à Infinita Perfeição e além, corte-me o ego!”
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Ś
rī Ś
rī Durgā e à Ś
rī Ś
rī Mahākālī!
Agradeço grandemente e de coração ao irmão Yuri pelas bases e referências proporcionadas para esse texto e para a minha devoção de forma geral.
Para um maior aprofundamento no tema, acesse outros textos aqui.
Minhas humildes reverências.