ॐ Gaurapūrṇimā - Satsaṅgas à Śrī Gaura-Nitai
Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Mahādeva!
Todas as Glórias à Śrī Bhagavan!
Todas as Glórias à Śrī Śakti Devī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Gaura-Nitai!
Śrī Gaura-Nitai. |
Neste mês de março, no Templos Polimata de Campinas (16/03), celebraremos o auspicioso festival Gaurapūrṇimā em nosso Satsaṅga. Trata-se do advento (aparecimento) de Śrī Caitanya Mahāprabhu, santo cujo nome pode ser livremente traduzido do sânscrito como “Grande Mestre da Consciência Universal”, considerado um avatāra (encarnação divina) de Śrī Kṛṣṇa e Śrī Rāma, em alusão a um de seus passatempo mais famosos, quando revela sua forma transcendental de seis braços: Ṣaḍbhuja Caitanya.
Ṣaḍbhuja Caitanya, com os braços de Śrī Caitanya (dourados), Śrī Kṛṣṇa (azulados, com a flauta) e Śrī Rāma (esverdeados, com arco e flecha). |
A representação Divina que preside a celebração em questão é Śrī Gaura-Nitai, a grande manifestação do processo devocional (bhaktiyoga) da tradição vaiṣṇava, a linha espiritual que, dentro do incontável conjunto de tradições que compõem o que conhecemos hoje por hinduísmo, realiza o caminho de Śrī Viṣṇu.
Trata-se de uma Deidade dupla, composta por Śrī Gaura, um dos muitos nomes do Senhor Caitanya, cujo significado é “dourado” – devido à tom cintilante de sua cútis – e Śrī Nitai, abreviação de Nityānanda, onde ”nitya” significa eterno e “ānanda”, prazer, bem-aventurança.
Śrī Nityānanda nasceu filho de pais virtuosos, o brāhmaṇa Hadai Paṇḍita e a Senhora Padmāvatī, em 1474, na cidade de Ekacakra, no estado de Bengala Ocidental, Oeste da Índia. É considerado uma expansão de Śrī Balarāma, irmão de Śrī Viṣṇu.
Ainda muito novo, demonstrava grande talento nos bhajanas (cânticos devocionais) e já aos treze anos de idade, deixou Sua casa para acompanhar o sábio Lakṣmīpati Tīrtha em peregrinação, que eventualmente acabou iniciando-o.
A partir desta experiência, pôde associar-se com outros célebres discípulos de seu guru, como Śrī Mādhavendra Purī, Śrī Advaitācārya e Śrī Iśvara Purī, mestre espiritual do Senhor Caitanya.
Śrī Caitanya Mahāprabhu – conhecido também como Śrī Gaurāṅga, “corpo dourado”, e também como Śrī Nimai, “nascido sob a árvore nīma” – personifica o devoto perfeito, uma vez que possui combinadas tanto as qualidades do Senhor Kṛṣṇa, a própria manifestação de Deus, como d’Aquela que é capaz de amá-lo com absoluta perfeição, sua śakti e maior devota, Śrīmatī Rādhā.
Desceu, pois, a este plano material com a missão específica de resgatar o processo devocional, que encontrava-se em franca decadência na presente kaliyuga – a era do revés.
Considerando as palavras de Śrī Kṛṣṇa à Arjuna, na Bhagavad Gītā, Capítulo 4, Verso 7:
यदा यदा हि धर्मस्य ग्लानिर्भवति भारत।
अभ्युत्थानमधर्मस्य तदात्मानं सृजाम्यहम्॥७॥
yadā yadā hi dharmasya glāniḥ bhavati bhārata ।
abhyutthānam adharmasya tadā ātmānam sṛjāmi aham ॥ 7 ॥
“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bhārata, e uma ascensão predominante da irreligião – aí, então, Eu próprio faço Meu advento.”
O Avatāra Dourado apareceu no ano de 1486, às margens da Mãe Gāṅgā, na cidade de Navadvīpa, também no estado de Bengala Ocidental. Uma cidade muito próspera, composta por uma sociedade altamente erudita, mas que com a entrada da kaliyuga, foi tomada por uma crescente mentalidade materialista, que afundava seus cidadãos no orgulho e, consequentemente, afastava-os do Supremo.
Contudo, ainda havia um pequeno grupo que se mantinha firmemente posicionado no serviço religioso, liderado por uma figura dotada de grande compaixão, o sábio Śrī Advaitācārya. Este, era um grande expoente em jñāna(conhecimento), vairāgya (desapego) e bhakti (devoção) e diariamente, incluía em suas preces à Śrī Kṛṣṇa o pedido sincero para que o mesmo descesse à este plano e libertasse a sociedade de seu sofrimento.
Tamanha a pureza e devoção de Śrī Advaitācārya que, em uma noite de eclipse lunar no mês Phalguna, Viśvambhara – nome de nascimento de Śrī Caitanya – abrolhou do ventre de Śrī Śacī, virtuosa esposa de Śrī Jagannātha Miśra, compassivo e elevado brāhmaṇa.
Śrī Advaitācārya em suas oblações à Śrī Kṛṣṇa. |
Tal a profunda beleza do ocorrido acima, que noites que apresentam este fenômeno astronômico são consideradas altamente auspiciosas na tradição hindu. Assim é, pois, conforme explicado previamente em nossa última postagem, a Lua é tida como a representação da alma em interação com a matéria, uma vez que a mesma não emite luz própria, mas sim o reflexo da luz de Sūrya (o Sol). Consequentemente, é também a Deidade que governa a mente humana, representando o ego.
Desta maneira, um eclipse lunar representa a manifestação da Consciência Divina face a mente mundana, deturpada pela ilusão. Sendo assim, a tradição leva todos a encaminharem-se para as margens dos rios sagrados, para banharem-se enquanto glorificam o Supremo através de cânticos.
Portanto, Śrī Gaurāṅga tornou-se manifesto neste planeta em uma noite de grande demonstração devocional, que envolvia a entoação pública e coletiva dos Santos Nomes. Algo que, mais tarde, se revelaria um de seus maiores ensinamentos.
A priori, o jovem Viśvambhara (“aquele que tudo sustenta”) priorizada os estudos acadêmicos, principalmente a língua sânscrita. Todavia, após uma viagem à cidade de Gayā, conheceu seu guru, Śrī Iśvara Purī, por quem é iniciado.
Ao retornar à sua cidade natal, impressiona a todos com sua transformação, de erudito a devoto de grande fé, assumindo naturalmente o comando do grupo vaiṣṇava de sua região.
Agora, conhecido como Nimai Paṇḍita (um título escolástico), funda uma escola de kīrtana, onde ensinava pregação, cânticos e danças congregacionais, expressando toda a sorte de sentimentos religiosos. Foi quando associou-se de fato com Śrī Nityānanda e passou a orientar seus irmãos espirituais a pregar pelas ruas do distrito de Nadia, resgatando os cantos do nome do Senhor Hari e (re)convertendo multidões.
Aos 24 anos de idade, tomando o voto de saṃnyāsa – a renúncia ao mundo material e dedicação integral à vida espiritual – de Śrī Keśava Bhāratī, é batizado como Śrī Kṛṣṇa Caitanya e decide partir em peregrinação, acompanhado de Seus associados mais próximos, o conjunto de Santos que forma o Pañcatattva – pañca significa ”cinco“, e tattva, “verdade” – que representa os cinco aspectos de Deus dentro da presente linha vaiṣṇava.
O Pañcatattva é formado por:
- Śrī Caitanya: o Próprio Deus em forma de devoto;
- Śrī Nityānanda: a expansão plenária de Deus em forma de devoto;
- Śrī Advaitācārya: a encarnação de um devoto;
- Śrī Gadādhara Paṇḍita: e energia da Devoção;
- Śrī Śrīvāsa Thakkura: o devoto puro.
Assim, não há diferença alguma entre os cinco santos mencionados acima. Refletem, pois, diferentes humores da mesma personalidade de Deus, que regozija-se em cinco līlās (passatempos) distintos, simultaneamente.
O Pañcatattva: da esquerda para a direita, Śrī Advaita, Śrī Nitai,
Śrī Gaura, Śrī Gadādhara e Śrī Śrīvāsa.
Ao fundo, Śrī Subhadrā, Śrī Balabhadra e Śrī Subhadrā.
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Abaixo, reverências às Verdades manifestadas que traduzem os exposto acima, presentes na famosa escritura que narra a biografia do Avatāra Dourado, a Caitanya-Caritāmṛta, em Ādi Līlā 7.6:
पञ्चतत्त्वात्मकं कृष्णं
भक्तरूपस्वरूपकम्।
भक्तावतारं भक्ताख्यं
नमामि भक्तशक्तिकम्॥६॥
pañca-tattvātmakaṁ-kṛṣṇaṁ
bhakta-rūpa-svarūpakam।
bhaktāvatāraṁ-bhaktākhyaṁ
namāmi bhakta-śaktikam ॥6॥
bhakta-rūpa-svarūpakam।
bhaktāvatāraṁ-bhaktākhyaṁ
namāmi bhakta-śaktikam ॥6॥
“Ofereço minhas reverências ao Senhor Kṛṣṇa, que manifestou-Se em cinco, como um devoto, como a expansão de um devoto, como a encarnação de um devoto, como um devoto puro e como a energia devocional.”
Por conseguinte, o Śrī Nimai passou os vinte e quatro anos seguintes de sua vida – até seu desaparecimento, então com quarenta e oito anos – pregando o serviço devocional desapegado ao Senhor Supremo através do processo de saṅkīrtana, conforme descreveu no Śrī Śikṣāṣṭakam, versos 1 e 3, respectivamente:
चेतोदर्पणमार्जनं भवमहादावाग्निनिर्वापणं
श्रेयःकैरवचन्द्रिकावितरणं विद्यावधूजीवनम्।
आनन्दाम्बुधिवर्धनं प्रतिपदं पूर्णामृतास्वादनं
सर्वात्मस्नपनं परं विजयते श्रीकृष्णसङ्कीर्तनम्॥१॥
ceto-darpaṇa-mārjanaṁ bhava-mahā-dāvāgni-nirvāpaṇaṁ
śreyaḥ-kairava-candrikā-vitaraṇaṁ vidyā-vadhū-jīvanaṁ ।
ānandāmbudhi-vardhanaṁ prati-padaṁ pūrṇāmṛtāsvādanaṁ
sarvātma-snapanaṁ paraṁ vijayate śrī-kṛṣṇa-saṅkīrtanaṁ ॥1॥
“Glórias ao Śrī Kṛṣṇa-Saṅkīrtana, que remove do espelho o do coração toda a poeira que se acumulou e extingue o fogo da vida condicionada. Este movimento de saṅkīrtana é a principal bênção para toda a humanidade em geral, porque espalha os raios da lua da bênção. É a vida de todo o conhecimento transcendental. Ele aumenta o oceano do êxtase transcendental, banha o eu de todos, e capacita-nos a saborear completamente o néctar pelo qual sempre ansiamos.”
तृणाद् अपि सुनीचेन
तरोर् अपि सहिष्णुना।
अमानिना मानदेन
कीर्तनीयः सदा हरिः॥३॥
tṛṇād api sunīcena
taror api sahiṣṇunā ।
amāninā mānadena
kīrtanīyaḥ sadā hariḥ ॥3॥
“O Santo nome do Senhor deve ser cantado em um estado de espírito humilde, considerando-se inferior à palha na rua, deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, destituído de todo sentimento de falso prestígio, e deve-se estar pronto para oferecer todo o respeito aos outros. Em tal estado de espírito, pode-se cantar o nome do Senhor constantemente.”
Escolheu, pois, o que veio a se tornar o Mahāmantra Harekṛṣṇa (citado e traduzido mais abaixo) como principal veículo da manifestação devocional. Tal escolha se deu por sua origem transcendental, que ultrapassa os níveis inferiores da consciência, elevando aquele que o pronuncia a uma plataforma espiritual superior.
Antes do advento de Śrī Caitanya, considerava-se que o Mahāmantra Harekṛṣṇa era tão poderoso, demandando um nível de consciência tão elevado para ser utilizado da maneira mais adequada e respeitosa, que apenas alguns poucos caminhantes espirituais bastante avançados podiam utilizá-lo, tornando-o secreto e altamente restrito.
Então, através de sua infinita compaixão, com o objetivo de conferir aos devotos a chance de estabelecer tão poderosa conexão, Śrī Gaura decretou a liberação do mesmo para todos, assumindo para si o karman das ofensas que poderiam ser manifestadas por aqueles que não conhecem a verdadeira natureza do Grande Mantra.
Antes de instalar-se definitivamente em Jagannātha Purī, viajou por diversas cidades da Índia. Especialmente em Vṛndāvana, orientou os famosos Seis Gosvāmīs – Rūpa, Sanātana, Raghunātha, Jīva, Gopala Bhaṭṭa e Raghunātha Dāsa – a sistematizar sua doutrina.
Os Seis Gosvāmīs de Vṛndāvana. |
Filosoficamente, a grande contribuição do Senhor Caitanya reside na combinação de distintos pontos relacionados à conceitos, preceitos e práticas doutrinárias, de diferentes sampradāyas – escolas que subdividem a tradição vaiṣṇava, cujos distingues serão aprofundados em uma postagem futura.
As quatro grandes sampradāyas vaiṣṇavas chamadas ”autorizadas” são:
- Mādhava Gauḍīya, ou Brahmā Sampradāya;
- Rāmānuja, ou Śrī Sampradāya;
- Viṣṇusvāmī, ou Rudra Sampradāya;
- Nimbārka, ou Kumāra Sampradāya.
Os principais pontos de debate entre as escolas jazem na Deidade central que é adorada por cada uma delas e, consequentemente, nas diferentes relações entre o Criador e suas criaturas, considerando o critério dos termos de unidade (igualdade) e/ou diferença entre Deus, as almas e suas criações – como prakṛti (a matéria), por exemplo.
Visto isso, Śrī Gaurāṅga fundou uma nova linhagem: a Gauḍīya Sampradāya, tradição da qual, posteriormente, na década de 1920, surgiu a ordem monástica Gauḍīya Maṭha, precursora do que conhecemos hoje por Movimento Harekṛṣṇa.
A Gauḍīya Sampradāya fundamenta-se na filosofia Acintyabhedābheda, onde “acintya” significa inconcebível, “bheda”, diferença e “abheda”, não-diferença. Portanto, tendo em vista os critérios de classificação dos conceitos de igualdade e/ou diferença entre as almas e Deus, o presente sistema filosófico considera que o Supremo, diante de sua insondável natureza transcendental, é ao mesmo tempo, e de maneira inconcebível (acintya), diferente (bheda) e igual (abheda) às Suas criações.
Portanto, a energia de Śrī Śrī Gaura-Nitai personifica o amor transcendental, que ilumina nossos corações através da bondade que reside nas ações realizadas em desapego, e da elevação de nossa consciência por meio da manifestação devocional por meio de mantras e canções, diante de uma era de ilusão e escuridão, que demanda entrega sincera ao verdadeiro serviço amoroso de Deus.
Invocações Mântricas Para o Ritual
पञ्चतत्त्व मन्त्र
Pañcatattva mantra – invocação às 5 verdades do Senhor, personificados nos Santos mencionados anteriormente. Este deve ser entoado antes do Mahāmantra Harekṛṣṇa, aludindo à linha devocional da Gauḍīya Sampradāya.
॥(जै) श्रीकृष्णचैतन्य प्रभुनित्यानन्द श्रीअद्वैत गदाधरश्रीवासादिगौरभक्तवृन्द॥
(jai) śrī-kṛṣṇa-caitanya prabhu-nityānanda śrī-advaita gadādhara śrīvāsādi-gaura-bhakta-vṛnda
Reverências à Śrī Kṛṣṇa Caitanya, Śrī Nityānanda, Śrī Advaita, Śrī Gadādhara Paṇḍita, Śrī Śrīvāsā Thakkura e à todos os devotos do Senhor Gaura.
हरेकृष्ण महामन्त्र
Harekṛṣṇa Mahāmantra (“o grande mantra Harekṛṣṇa”)
हरे कृष्ण हरे कृष्ण
कृष्ण कृष्ण हरे हरे ।
हरे राम हरे राम
राम राम हरे हरे ॥
hare kṛṣṇa hare kṛṣṇa
kṛṣṇa kṛṣṇa hare hare ।
hare rāma hare rāma
rāma rāma hare hare ॥
kṛṣṇa kṛṣṇa hare hare ।
hare rāma hare rāma
rāma rāma hare hare ॥
Clamo pela śakti d’Aquele que é o Todo-Atraente.
Clamo pela śakti d’Aquele em que todos encontram a felicidade. *
* Obs.: As traduções dos de mantras variam de tradição para tradição. Neste caso, tradução acima foi concebida a partir do pensamento da tradição Gauḍīya Vaiṣṇava, raiz do Movimento Harekṛṣṇa
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Todas as Glórias à Śrī Guru Mahārāja Ācārya Mahāsūrya Paṇḍita Svāmī!
Todas as Glórias à Śrī Śrī Gaura-Nitai!
Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,
Yuri D. Wolf
सङ्कटमोचन